Tempo, não voltes para trás!

By Vera Carregueira - 09:40

Já lá vai o tempo que fui esta pessoa. O tempo não volta e as recordações não ficam mais doces só porque os anos se sucedem. Tinha 24 anos acabados de fazer. Tinha-me separado recentemente com uma filha de 3 anos nos braços e um patrão que não me pagava ordenado desde que o meu ex havia saído de casa. Mas eu nunca me tinha sentido tão livre e tão feliz não sabia, na altura que esta foto foi tirada, tudo o que iria enfrentar.

Os problemas vieram depois, tudo se desmoronou. O mundo caiu-me em cima e eu não sabia o que fazer ou para onde me virar. Perdi a força, fechei-me na minha concha e fiz-me de morta. Não queria nada daquilo, comecei a tornar-me amarga, de mal comigo e com o que a vida me estava a tornar.

Muita coisa sucedeu e não vale a pena contar tudo, sei que grande parte do que aconteceu foi por inação minha, por choque e completamente transtornada por me acontecerem coisas que não esperava e não tinham sido culpa minha por isso recusava-me a resolver.

Comecei a ter ansiedade, tinha crises horríveis em que mal conseguia respirar, a sensação era sempre a mesma, não entrava ar suficiente. Foram meses assim, acabou por passar sozinho, nunca fui ao médico e engordei, só nestes meses de crise, 16kgs. Quando percebi fiquei em choque. Como é que era possível estar assim? Mais uma vez desanimei e baixei os braços.

Anos de desemprego, dependente de terceiros, sem saber o que fazer à minha vida, andava "aos caídos".

Foi sempre culpa minha que por me recusar a resolver problemas causados por outras pessoas mas que me afectavam directamente, deixei que toda a minha vida fosse destruída. A ansiedade volta sempre, já engordei mais 9kgs em cima dos 16 que já tinha a mais.

Dói que me digam que não estou muito gorda, que nem estou mal, que não pareço ter tanto peso como a balança indica. A auto estima que nunca tinha sido grande coisa morreu, acabou-se. Não sei como trabalhar nela e fazê-la renascer, nem que seja um bocadinho.

Este meu desabafo é só para dizer que com os anos percebi que não posso julgar ninguém por ser como é, não sabemos o que viveu, por onde passou, o que construiu e o o que perdeu. Cada vez julgo menos apesar de ser costume do ser humano fazer tal disparate. Assim como aboli a inveja da minha vida. Se depois de tudo o que vivi há quem me diga que tem inveja de mim como sou capaz de invejar os outros? Não invejo ninguém, não sei o passado nem o presente das pessoas nem o que as levou àquele ponto.

Ainda tenho um longo caminho a percorrer mas já consigo ter um pouco mais de foco. Falta recuperar tudo o que perdi e o mais difícil vai ser a dignidade e a auto confiança.

Não gostaria nada que o tempo voltasse atrás, não quero passar por tudo novamente.

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